terça-feira, 18 de março de 2008

Era uma vez...

...como outras vezes já vividas. Com a pequena diferença de que desta vez já não te tinha e nas outras ainda não te tinha. Depois eu respiro fundo e ouço o eco da minha confusão adormecida. As primeiras palavras que expiro são nuvens de algodão doce que caem em ti com aquele som opaco e quente de uma gota de bálsamo que não se fragmenta. Conseguimos manter nos lábios o sorriso de todo o corpo até começares com aqueles jogos disparatados e perfeitamente desnecessários de ver se na vertigem entre pele e a alma há esperança ou há uma cicatriz. Como não consegues ver, em vez de tentares o mais fácil, vais pelo pior caminho: começas a magoar para ver "quanto" ainda gosto. Não percebo por que continuas a fazê-lo. Então, aí, começo a destilar o veneno que me dás a beber e na minha voz sente-se um sabor amargo de desilusão contida. Respiro fundo outra vez. Breves instantes de um silêncio ensurdecedor e despedimo-nos para nos vermos mais tarde. Corro para acompanhar o coração. Quero pensar que é ele que acompanha o meu passo. Ainda desces as escadas e já desapareci de mim. Perdi-me. Fui ali e não voltei. Troquei de cenário. Mudei de canal. É outro filme. Vejo-te tão bem que não te olho. Não quero fingir que não sei, nem quero que finjas que não sabes que vejo. Não me acorda o teu cheiro. Não me deixas chegar. Convidas e ris com medo. Recuas. Também com medo arranjas um motivo para me tocar na roupa, no ombro, no braço, no cabelo. Nunca na pele. É de ti que tens medo. Vou-me embora. Saí do cinema. Liguei a música. Mas, antes, pensei: era uma vez em que tudo estava igual. No princípio ainda não te tinha e agora ainda não te tenho outra vez.

Sem comentários: